quinta-feira, 24 de novembro de 2011

domingo, 6 de novembro de 2011



“E ele dizendo o quanto queria me ver de novo.
Mas a vida é complicada. E eu dizendo o quanto queria que ele realmente quisesse me ver de novo. Mas ele é complicado.”
'O amor nunca morre de morte natural. Añais Nin estava certa.
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer.
Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre
esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre
atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença.
Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.
Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados.
O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos.
Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma
conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está
morto. Facilitamos seu estremecimento.
O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida
por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a
nossa vida.
O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada.
Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor
morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele
poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não
avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente.
Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui
orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho
não salva, o orgulho coleciona mortos.
No mínimo, merecia ser incriminado por omissão.
Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso,
silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de
balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria.
Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu
próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço
as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que
fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas.
Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela
conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de
personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas
e falhas.
Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade.
O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o
amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem
recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi
contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão
proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava,
reintegrar ao armário o que temia rever.

O amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela.
'

terça-feira, 1 de novembro de 2011

'I'm bulletproof, nothing to lose
Fire away, fire away'

OITAVO FRAGMENTO DA DÉCIMA TERCEIRA VOZ

'Sempre virá. A solidão não existe. Nem o amor. Nem o nojo. Odeio quando te enganas assim, girando entre aspanelas. A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pêlos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções. São inúteis os panos, vassouras, espanadores. Tenho medo de continuar. E não suportaria parar, ondas de lemanjá. Vês como evito pedir ajuda?...' (Caio)